Doença da urina preta: Especialistas esclarecem cuidados na hora de comprar, armazenar e consumir peixes
Tipo de intoxicação alimentar causada por uma toxina liberada por alguns peixes de agua doce e crustáceos acontece quando não são armazenados e preparados de forma adequada
Recentemente, uma jovem de 27 anos ficou em estado grave após consumir peixe e ser acometida pela Síndrome de Haff, popularmente conhecida como doença da urina preta. A infectologista do Sistema Hapvida, Ana Rachel de Seni, explica que na hora de comprar qualquer tipo de peixe e armazenar, é preciso ter cuidado, pois é um alimento extremamente perecível.
A síndrome está associada a uma toxina e tem início com náuseas e vômitos. A toxina não tem nem gosto nem cheiro específicos, o que torna mais complexa a sua percepção, e também não é eliminada pelo processo de cocção.
“É uma doença rara e aguda, ou seja, acontece de forma repentina. É uma intoxicação alimentar causada por uma toxina liberada por alguns peixes de agua doce e crustáceos, quando esses não são armazenados e preparados de forma adequada. Ela é caracterizada por lesão das células musculares. A urina fica de coloração preta, pois há uma destruição importante das células musculares e liberação de uma proteína presente nos músculos chamada mioglobina, que tem a coloração escura. Ela é filtrada pelos rins e assim a urina fica preta”, explica.
De acordo com a médica, os sintomas acontecem geralmente após 24 horas após ingestão de peixes e crustáceos contaminados e sintomas mais comuns são dor muscular intensa, fraqueza, dificuldade para andar, falta de ar e em casos mais graves pode apresentar insuficiência renal e o paciente evoluir para a hemodiálise. “É uma doença rara, mas é preciso que a pessoa esteja atenta à procedência do alimento. Como está associada ao consumo de peixes e crustáceos, saber a procedência desses alimentos, como foram adquiridos, como foi o transporte, como foi o armazenamento, se está na temperatura adequada”, alerta a especialista.
Como escolher – Na hora de escolher o peixe, a nutricionista Sonalle Carolina, do Sistema Hapvida, orienta verificar se as escamas estão brilhantes e bem firmes, os olhos estão brilhantes e vivos, as guelras úmidas e intactas e sem presença de pontos brancos e odor suave característico da espécie. A especialista recomenda também procurar lugares com registro nos serviços de vigilância sanitária.
A qualidade do peixe, seja ele fresco, congelado ou seco está relacionado à matéria prima, controle de temperatura e manipulação adequada. A especialista ressalta que para a escolha de um peixe fresco é importante avaliar se o pescado possui camada de gelo suficiente para manter a temperatura (-0,5 a -2 ºC) e observar as principais características para selecionar o peixe.
Entre as recomendações para consumo, a nutricionista afirma que há uma variedade de peixes que podem ser consumidos. De acordo com a sazonalidade os melhores são: cação, linguado, namorado, olhete, pintado, sardinha, tainha e truta. Para além da sazonalidade, a especialista sugere o consumo da tilápia, tendo em vista que esta é uma espécie facilmente encontrada no mercado.
Armazenamento – A atenção para o consumo de peixes não deve estar apenas no ato da compra, mas também no armazenamento ao qual o alimento será submetido. Sonalle explica que o ideal é não quebrar a cadeia do frio, então seria interessante já ir à peixaria com o isopor ou conserva com gelo, caso isso não aconteça, os peixes devem ser armazenados o mais breve possível em geladeira ou freezer. “Caso o consumo seja rápido, o peixe pode ser armazenado em até 24 horas em geladeira, desde que retirado as vísceras. Se o consumo ultrapassar esse tempo, congelar por no máximo três meses”, orienta.
Para peixes comprados congelados, a sugestão da nutricionista é realizar o descongelamento antes do preparo e em refrigeração. “Com relação aos pescados secos, principalmente o bacalhau, é interessante avaliar as características físicas, se possui bolor ou vermelhidão (indica presença de bactéria Halococcus sp.), ainda se há limosidade e amolecimento da carne, importante ressaltar que a salga do peixe não dispensa a manutenção sob refrigeração”, explica.
Benefícios – O consumo de peixes apresenta uma variedade de benefícios à saúde. Sonalle explica que os pescados são importantes fontes de proteínas na alimentação do ser humano, além disso, os valores de ômega 3, vitamina A e D, cálcio e fósforo encontrados neles são superiores a outras fontes proteicas animais. “Este alimento apresenta alta digestibilidade e é rico em aminoácidos essenciais. Os benefícios de comer peixe cru são reduzir o risco de doenças cardiovasculares, contribuir para o desenvolvimento cerebral, regeneração das células nervosas, ajudar a formar os tecidos e prevenir doenças ósseas”, elenca.